(Milton dos Santos e Eduarda Abondanza)
Milton dos Santos nasceu em S. Paulo.
Com uma vida estável e bem sucedida que já não o realizava, deixa tudo para se dedicar à moda. Um acontecimento inesperado, leva-o a Paris.
Hoje em dia, é o responsável pela escolha das marcas e criadores de todos os países da América Latina e Portugal para o salão de moda mais famoso do mundo: o Pret-a-Porter de Paris.
Com uma simpatia contagiante e uma vida recheada de experiências interessantes, Milton dos Santos é um nome de peso, e uma referência no mundo da moda internacional.
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IS. Qual é a sua ligação ao Pret-a-Porter?
MS. Sou agente representante da Federação do Pret-a-Porter em todos os países da América Latina e Portugal.
IS. Como começou o seu interesse pela moda?
MS. Foi por brincadeira. (Eu tenho formação em química!) Uma tia perdeu o emprego e começou a bordar umas camisetas que eu comecei a vender para dar uma força para ela. Gostei, porque comecei a vender super rápido. Depois, comecei a vender roupa feita por mim. Entrei no mundo da moda mesmo por acaso.
IS. Mas largou tudo para se dedicar à moda, foi uma paixão!
MS. Foi uma paixão porque eu tinha um bom posto a nivel de trabalho e financeiro, mas eu já não tinha prazer no trabalho que fazia. Larguei tudo e montei a minha própria boutique.
IS. Como surgiu Paris na sua vida?
MS. Paris! Essa é uma historia bem interessante! Abriu a escola ESMOD no Brasil e eu comecei a fazer o curso. Depois houve um problema de franchising entre o Brasil e a França e a escola fechou. Um dia chega a minha casa uma carta (que já tinha dado a volta ao Brasil porque o código postal estava errado) perguntando se eu queria terminar o curso em Paris. Nessa época eu já tinha duas boutiques, um começo de uma confecção, um escritório de assessoria em estilo e modelismo, e de repente, eu estava quase com 30 anos e pensei, ou é agora, ou não vai ser mais. Em três meses fiz um curso rápido de primeiros socorros em francês. Cheguei a Paris sem saber falar nada, sem conhecer nada.
IS. Quais foram as principais diferenças que notou entre o estilo de vida brasileiro e o parisiense?
MS. Primeiro, o clima. Quando começou o Inverno eu falei "eu vou embora ou eu vou ficar louco!" Fiquei louco, mas não vim embora! (risos) Estou quase a fazer 20 anos de Paris!
IS. Adaptou-se bem?
MS. Não, tive muitos problemas porque o estilo de vida era muito diferente. Eu sou uma pessoa muito ligada às raízes, à familia, que é uma coisa que na Europa não existe. Há esse lado individualista das pessoas que por um lado é bom, mas por outro há uma eterna solidão.Tudo é com horário marcado, foi muito dificil me adaptar.
IS. O que é que gosta mais de fazer na área da moda?
MS. Este trabalho que tenho hoje no Pret-a-Porter. Trabalho também para uma revista técnica francesa, faço cobertura de todos os eventos de moda e escrevo para dois websites do Brasil. Fora isso tenho o meu proprio escritório de assessoria de imprensa e comunicação, voltado para estratégia de marketing e um campo novo que desenvolvi de que estou gostando muito. Como as empresas fazerem para entrar no mercado europeu, ou empresas europeias entrarem no mercado parisiense. Esse trabalho, tanto com a revista como com o pret-a-porter tem permitido viajar e conhecer a cultura de cada pais.
IS. Como surgiu a sua entrada no Pret-a-Porter?
MS. Foi atraves de um salão independente.(O Casabô, que já não existe). Uum grupo de marcas brasileiras queria expôr e não sabia como, então eu organizei toda a estrutura na França e um amigo meu no Brasil escolheu as colecções. Foi para esse salão que nós trouxemos as primeiras empresas brasileiras que participaram num salão europeu. Este, foi comprado pela Federação do Pret-a.Porter. Começamos com cinco empresas de um polo de fabricação de malhas fazendo toda a parte de comunicação dos brasileiros. Tratando de uma serie de detalhes que faziam sonhar com o Brasil mas com roupas que podiam ser vestidas em todo o mundo. A dada altura, parei com esse trabalho, porque senti que estava a estagnar. Então, houve uma mudança na direcção do Pret-a-Porter, e me ofereceram a delegação da América do Sul. Eu propuz também Portugal, por ser um mercado que eu já conhecia.
IS. Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira?
MS. Foi acabar o curso na ESMOD, o primeiro evento que fiz...Depois de acabar o curso uma directora do salão, queria fazer uma festa, e eu comecei a tratar de tudo. O contacto com o publico, aquela tensão tão grande...toda a imprensa veio e ficou toda a gente contente! Isso me despertou para esse lado profissional, por isso acabei montando um escritório de assessoria e lançamento de produtos, porque o contacto com as pessoas, e o colocar as pessoas em contacto, é realmente uma paixão muito grande. O Pret-a-Porter também me está dando essa oportunidade.
IS. Qual é a sua opinião sobre a moda portuguesa?
MS. A moda portuguesa teve uma evolução muito grande, mas falta um nivel de comunicação um pouco mais globalizada. Tem uma criatividade excelente, um savoi faire em tudo o que é alfaiataria, espectacular! Quando trabalham com formas mais ajustadas, tanto no masculino como no feminino, são perfeitos. Quando entram pela parte fluida eu acho que se perdem um pouco ainda. Mas acho que deveriam ter mais acções internacionais, porque há pessoas de extrema qualidade aqui.
IS. Tem algum criador favorito?
MS. Tenho vários. O Nuno Baltazar eu amo! Uma pessoa que tenho acompanhado e que eu acho que é uma pessoa com talento e vai longe, é o Pedro Pedro. O Buchinho também. E a Ana Salazar, que é a primeira da moda portuguesa.(em Paris)
IS. Na sua opinião a globalização uniformizou a moda, ou cada pais, cada cultura, ainda mantem as suas caracteristicas próprias?
MS. A globalizaçção esta ai, e não tem como retornar, agora o que você precisa é adaptar o savoi faire de cada pais, mas com uma conotação de moda e não um lado folclórico. Por exemplo, um criador da edição passada (da moda lisboa) colocou o famoso xaile português para homens e para mulheres, mas de uma forma tão moderna, que você saia daqui a querer comprar! Tem globalização de moda e grandes redes que combatem os preços e quem quer um produto diferenciado, não encontra. Uma saida, vai ser a peça bem cortada, com detalhes diferenciados, que é só naquele país que você encontra. Essa vai ser uma maneira de diferenciação e não da banalização da moda como ela está hoje em dia.
IS. O que é moda para si?
MS. A moda está muito ligada ao estilo de vida e ao estado de espirito. Primeiramente, a moda é sonho. As pessoas têm de vender sonhos. Mostrar coisas bonitas. Não é esconder-se da realidade, mas mostrar as coisas belas, lançar o desejo nas pessoas e você fazer uma adaptação do que está na moda nesse momento - seja o corte, seja o tecido, ao seu próprio estilo.
IS. E o cúmulo do fora de moda?
MS. O que eu acho totalmente fora, é você sair igual à massificação, mesmo no luxo. A bolsa de tal marca está na moda, então de repente todo o mundo quer só porque é fashion. Ou então acaba saindo como foi apresentado numa revista. É a descaracterização da personalidade. A moda está ligada à personalidade.
IS. Em que projectos está envolvido neste momento?
MS. Estou organizando através da Embaixada do Brasil a vernissage da criadora brasileira Marcia Ganen de 30 de Março a 3 de Abril e fazendo a captação de expositores para a próxima exposição do Pret-a-Porter de 3 a 7 de Setembro.
(Adorei fazer esta entrevista!
um beijinho mto grande, Milton!)
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