(foto:"atmosferas do corpo")
Conheci a minha entrevistada de hoje, primeiro pelas palavras, depois pelas imagens.
A fusão artística, de um talento em potência.
Maria Treva, a iluminada…
1.Quem é a Maria Treva?
- De que maneira é que nos vimos? Esta pergunta é de difícil resposta sem cair num lugar-comum. Envolve o olhar no próprio sujeito e projectar aquilo que nos parece real é tarefa árdua, o que poderá ou não corresponder à realidade dos factos, uma vez que essa realidade é validada pelo “julgamento” das pessoas que estão à nossa volta.
Poderei dizer que sou uma pessoa vulgar, de gostos simples, que tem uma visão da vida pela percepção não convencionada, sustentada na pré-reflexiva questões da essência humana, sem cair na efervescência deslumbrada da análise excessiva de juízo de valores.
Sou por natureza uma pessoa reservada, o que para alguns poderá parecer ser o culto do “ ser misterioso”, mas na verdade é que dou pouco valor a factores de “ ter” segundo os padrões da sociedade:
Se tenho formação superior, ou ensino básico, se tenho x ou y idade, se tenho capacidade económica ou não, por exemplo, para mim são factores irrelevantes, não passam de escalas de socialização que contribuem para estereótipos que eu tanto abomino e como tal faço os possíveis para os desconstruir, não alimentando o “ ter” em detrimento do “ ser”.
Afinal não passámos de um número nos labirínticos arquivos de identidade, tudo não passa de um invólucro e decididamente a embalagem não deve, nem pode ser superior ao conteúdo.
Simples ou sofisticadamente simples, Como se interrogam quem diz que me conhece?
2.O que te inspira?
- Tudo. Não estou a exagerar. O que não me inspira, não é porque não seja inspirador, é pela minha incapacidade de absorver.
3.O que te move?
- O que me move são as pessoas e por conseguinte a movimentação da vida, da morte, do amor que elas produzem.
4.Em que projectos estás envolvida?
- O meu maior projecto, que surgiu da casualidade, como aliás tudo o que o que me envolvo, é fruto da casualidade.
Este projecto, era suposto ser ocasional, mas abraço-o há alguns anos. É numa instituição de solidariedade social, onde uma equipa, na qual faço parte, desenvolve diversas actividades no âmbito das várias expressões de arte: teatro, literatura, artes plásticas, fotografia… com o objectivo de promover a autonomia/cidadania através das artes de grupos potencialmente vítimas de exclusão.
Este projecto contínuo e pela sua dimensão, permite-me um alargamento de muitos outros projectos paralelos e ao mesmo tempo complementares, o que poderei dizer que estou “ enterrada” em mil projectos, mas muitos deles não passam disso mesmo, “ projectos” que por razões várias não passam disso. Para além de que, pessoalmente tenho alguma dificuldade em “assumir” compromissos, pelo menos no que diz respeito à criatividade. Não sei criar por encomenda.
Assim, de um modo descomprometido colaboro com alguns jornais, revistas na feitura de crónicas e fotografia, que quando os editores acham oportuno publicam.
5.Uma qualidade:
- Eheheh! Qualidade? Não me ocorre alguma. É grave?
6.Um defeito:
- Só um?
7.Um vício:
- Sou uma viciada em potência. Neste momento estou viciada nesta entrevista.
8.Uma musica:
- Entre tantas, escolho “ Hight Hope” - Pink Floyd
9.Um livro:
- “ O Medo” Al Berto
10.Um estado de espírito:
- Contemplação
11.O teu lugar favorito:
- O mar. Decididamente o mar.
12.Um sonho:
- Realizar uma exposição individual na “ Fundação de Serralves” onde pudesse conjugar fotografia com poesia (meus dois amores)
Sonho igualmente com a possibilidade de ter um estúdio fotográfico só para mim.
13.Qual é o papel da poesia na tua vida?
- A poesia é a simbiose dos elementos que me permite respirar. É o acto sacramental que me faz sentir que o amanhã existe. É fundamental, excede a minha existência.
14.O que é a alma química?
- “ Almaquímica” é um poema que escrevi. Poema no qual tento traduzir a intensidade da vida num único momento. Momento esse, que algures no espaço atinge-se o “ponto G” da alma.
15. Quando começou a tua paixão pela fotografia?
- A paixão pela fotografia começou pela “ culpa” de uns professores de “ arte & Design” que tive quando frequentava a escola “ Soares dos Reis”, que influenciaram e que me incentivaram a tirar um curso de fotografia na Escola Técnica de Fotografia do Porto, dirigida pelo então fotógrafo Queirós de Faria, onde conheci o Paulo Gaspar Ferreira.
Estas pessoas foram cruciais para que a minha paixão pela arte fotográfica estivesse sempre presente na minha vida, umas vezes mais manifestamente representada outras mais adormecidas, mas sempre paixão.
Aproveito a oportunidade para fazer o tributo a todos eles: Ao Sottomayor, ao Rangel, ao Queirós de Faria e ao Paulo, o meu muito obrigada por tudo o que vocês contribuíram. Sem vocês, a minha passagem por esta vida, era decididamente mais vazio.
16. A foto perfeita, será uma combinação de:
- Não creio que haja fotos perfeitas, na medida que não creio que haja perfeição. A perfeição é um conceito que os “deuses” inventaram para que a espécie humana não se extinga.
Sempre procuramos algo. A perfeição, sinónimo da insatisfação humana, mantêm-nos vivos, longe de qualquer pensamento destrutivo. O tempo participa na percepção visual, na concepção de ideias que “ os experimentais” ousam criar. Descobrem-se novas concepções, novas percepções estéticas que incitam emoções, pensamentos, que nos representem, quer no pensamento individual, enquanto artista, quer o pensamento colectivo, enquanto humanidade.
Neste sentido, enquanto artista, a fotografia perfeita é a desconstrução do conceito perfeito estereotipado, é fazer do horrendo, o belo, é fazer através de uma imagem, o pensamento crítico, incitar emoções, transformar o “clic” em algo memorável, fruto ou cristal da sensibilidade artística, aberta ao real de uma visão crítica.
17. O que/ quem gostarias de fotografar?
- Gostaria de fotografar rostos. Rostos ditos vulgares, anónimos por esse mundo fora em contextos distintos.
18. A história desta foto (atmosferas do corpo):
- Todas as fotos têm uma história/um contexto “ Backstage”.
“Atmosferas do corpo”é mais uma vez fruto da casualidade, aconteceu nas múltiplas experimentações de um clic (na tal procura de um foto perfeita) que se enquadrasse no que eu e o meu namorado pretendíamos: posar a título experimental. Também ele, um apaixonado por fotografia experimental e responsável pela minha cedência de passar a estar à frente objectiva.
Confesso que sempre fui renitente quanto a ser objecto fotográfico, partilho do pensamento ancestral de algumas tribos primitivas que: por cada fotografia que somos expostos, um pedaço da alma é arrancado, mas…o Homem é ele e a sua circunstância – Ortega y Gasset e como tal cedi e foi, é arrebatador!
Neste contexto, em auto foto surge “ Atmosferas do corpo”.
Eu e ele num cruzamento de braços em intimidade absoluta.
Comentários
Uma combinação perfeita de bom gosto.
Quem me dera que o jornalismo fosse sempre assim.
Parabéns ás duas.
Giraldoff
(José Ortega y Gasset)
Olá Jilly! Excelente este teu trabalho…Gostei.
beijinho
Excelente! Rompem-se as fronteiras, cruzam-se os mundos.
Parabéns à criadora e à razão da entrevista.
Andarilhus "(º0º)"
Gostei bastante...a Maria Treva foi uma excelente entrevistada, o que tb ajuda muito a quem entrevista!
Parabéns
Bjs
Breizh
Os meus parabéns às duas meninas...
beijinhos